Voluntária se mobiliza e mais de 500 crianças recebem presentes de Natal em BH

Ainda menina, Eliana acompanhava a mãe nas doações que, “modestamente”, fazia. Como disse a mineira, hoje com 52 anos, o gosto pelo trabalho voluntário “veio de berço”. Atualmente, ela levanta da cama cedo e às 9h já está no banco onde trabalha, no Centro de Belo Horizonte. Por volta das 18h30, desdobra-se, em meio ao trânsito intenso devido ao horário, para chegar ao orfanato que ajuda a manter, na cidade de Contagem, na Região Metropolitana da capital mineira.

Eliana Malta conta que a casa, que frequenta há cerca de 20 anos, tem espaço para 25 crianças. Com alegria no rosto, a voluntária apresenta os cômodos à reportagem do G1. E se orgulha ao dizer: “Tudo que temos aqui é fruto de doação”. Ela explicou que o orfanato funciona como um “porto seguro” para muitas pessoas que, assim como ela, dispõe-se a ajudar os mais carentes.

Além de auxiliar na administração do local, onde várias crianças têm um espaço para dormir, comer, brincar e aprender, Eliana organiza, também, uma coleta de presentes de Natal. Neste ano, ela, com a ajuda de uma grande equipe, vai abastecer o trenó do Papai Noel em grande escala. Cerca de 560 crianças carentes já têm o seu presente garantido. Ao menos seis comunidades carentes de Belo Horizonte e Região Metropolitana serão beneficiadas.

A lista
“O que inicia tudo é a lista das crianças”, conta Eliana. Ela recebe uma listagem feita por dirigentes de instituições que atendem comunidades carentes. E para a surpresa da voluntária, a lista deste ano atingiu números nunca alcançados em mais de 10 anos de ação.


“Quando eu vi a lista, eu pirei. ‘Gente é menino demais. No ano passado foram 300. Quase dobrou. Será que nós vamos conseguir? ’”, lembra. Para arrecadar presentes para essa grande quantidade de meninos, Eliana contou com a ajuda dos “padrinhos”, que reuniu durante pouco mais de dois meses.

“É muito gostoso quando as pessoas trazem os pacotes [de presentes]. E não tem muito a ver com o poder aquisitivo. Tem pessoas muito simples que colocam um biscoito recheado, uma caixinha de gelatina. Eles realmente imaginam aquela criança que vai receber que não sabe nem quem é que mandou”, diz a voluntária.

Depois de entregues, os presentes vão ser organizados por um grupo de voluntários que ajuda Eliana. Ela faz questão de enfatizar a importância dos colegas: “Eu, sem o grupo, não existo”.

Em uma sala do orfanato, onde os pacotes estão sendo preparados, quase não se consegue andar. Dois meninos que vivem na casa se perdem em meio à imensidão de brinquedos espalhados pelo chão do cômodo, em busca de seus presentes. A irmã de Eliana, a enfermeira Adriana Malta, que faz parte do grupo, tenta acalmá-los – em vão. Os dois correm de um lado para o outro com o sorriso estampado no rosto. Em outro cômodo do orfanato, cerca de oito garotos, que provavelmente não sabem da existência da sala dos presentes, assistem a um desenho que passa na televisão.

‘Os olhinhos deles’

Essa parte, Eliana conta com o maior prazer. Trata-se do momento em que as crianças recebem os presentes, entregues pelos dirigentes das instituições que atendem às comunidades.

A voluntária diz que não consegue acompanhar a ocasião em que todas as crianças ganham os presentes. Mas, segundo ela, esse é um momento muito especial. “Não tem nada que pague isso. Quando chega a sacola de presentes e você vê a carinha deles, o cansaço se desfaz. Não tem preço ver isso, os olhinhos deles”, diz, emocionada.

Para os que não experimentaram essa sensação de ajudar, Eliana acredita ser só uma questão de tempo e oportunidade. “Se a pessoa não fez ainda é porque ela não teve o momento. Vai chegar a hora em que ela vai fazer. Vai chegar o momento em que ela vai perceber alguém que está precisando de alguma coisa perto dela”.



No último dia(16), o G1 acompanhou a entrega de presentes na Região Noroeste de Belo Horizonte. De acordo com o dirigente da instituição, José Geraldo de Oliveira, cerca de 70 voluntários se envolveram na organização do evento, que contemplou moradores de uma favela do bairro Citrolândia, em Betim.

A dona de casa Conceição Nascimento, de 61 anos, ficou muito feliz com os presentes e agradeceu aos voluntários. “Adorei essa festa. No dia do Natal é o meu aniversário, e eu vou ficar mais feliz. Que Deus abençoe estas pessoas. Sempre que tiver vou vir”, disse.

Renilda Pereira, de 45 anos, participou da festa pela segunda vez, com seus dois filhos gêmeos de sete anos. “A iniciativa é muito boa. Na comunidade vivem muitas pessoas. E várias precisam muito”, disse.

Janete dos Santos, de 31 anos, contou que pela primeira vez participou da festa e gostou muito. “Foi maravilhoso. Deus abençoe a todos os voluntários”. Ela estava acompanhada das duas filhas, uma de dez e outra de dois anos.

Eliana e Adriana acompanharam a entrega às crianças.“Esse é o espírito do Natal Mesmo. Pra mim, é a sensação de dever cumprido. Cada mãe saiu com um alimento, cada criança saiu com um brinquedo. Poderia acontecer o ano todo, se tivesse mais pessoas para ajudar”, contou Eliana.

Família de voluntários
Como disse Eliana, a vontade em ajudar o próximo “veio de berço”. E essa é uma das heranças que a mineira fez questão de passar para o seu filho, hoje um homem de 26 anos. Quando adolescente, ele começou a trabalhar no Movimento de Libertação dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). E, atualmente, depois de dez anos de participação, não pensa em parar, afirma a mãe.

O marido de Eliana também é voluntário. Segundo ela, ao menos uma vez por semana, ele dialoga, em palestras, com dependentes químicos.

Sobre a irmã, Eliana fala com carinho. As duas juntas participam de outras iniciativas com crianças com doenças infecto-contagiosas. Neste Natal, Eliana e Adriana também entregarão presentes para esses meninos. “São crianças de extrema pobreza com doenças muito graves. É um trabalho difícil, mas muito necessário”, diz.

Angústia e dificuldades
Não só de bons sentimentos vive um voluntário. A angústia e as dificuldades também fazem parte da vida de Eliana. Ela conta que nem sempre sobra tempo para compromissos sociais ou, até mesmo, atividades físicas. “Sempre fica uma ponta mal cuidada. Você não consegue cuidar de tudo 100%. Não sou dona de casa, não sou boa esposa, pois sou muito ausente. Passo muito pouco tempo em casa. Não consigo marcar um compromisso social. Faz falta. Eu sinto falta disso também”, desabafa.

Além das dificuldades com a carência de horário, Eliana Malta relata, ainda, que a angústia também aparece, pois nem sempre é possível ajudar. Sobre as crianças do orfanato, por exemplo, ela conta: “Quando eles chegam aqui, eu fico aliviada. O que me angustia é o que eles passaram antes de vir pra cá, a situação de risco deles. Além de muitos questionamentos que eles nós fazem, mas que a gente não tem resposta”.

Mas, ainda assim, Eliana não desiste e explica que a tendência do trabalho voluntário no Brasil é se difundir. “Você vê que a coisa vai espalhando. A tendência é crescer. A renda das pessoas está aumentando um pouco. O Brasil está ficando mais independente e, com isso, as pessoas têm condições de doar mais, de pensar um pouquinho mais no outro”, conta.

Para ela, a boa ação se multiplica. “Isso brota. Se a terra do coração está fértil, qualquer semente que você plante vai despertar. É só uma questão de a pessoa saber que ela consegue. Não precisa ter medo de pegar um desafio desses”.

Fonte: G1





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